(Carlos Newton) – Em 21 de maio, ao depor durante mais de três horas, o empresário Paulo Marinho, ex-amigo de Jair Bolsonaro, a.firmou que, antes mesmo de assumir, o presidente eleito já mantinha canal direto com a Polícia Federal, acrescentando que um delegado avisou Bolsonaro com antecedência sobre a Operação Furna da Onça, que envolveu enriquecimento ilícito de grande número de deputados estaduais do Rio de Janeiro, incluindo seu filho Flávio e o assessor Fabrício Queiroz.
Em abril deste ano, já tinha voltado à baila o assunto dos vazamentos e das interferências do presidente em investigações, devido à atitude do então ministro da Justiça, Sérgio Moro, que vetou o acesso do presidente aos inquéritos da Polícia Federal. E agora surge o escândalo das interferência da Lava Jato, através da Procuradoria-Geral, comandada por Augusto Aras, aquele que não estava na lista tríplice e agora sonha com o Supremo.
CRISE NA PROCURADORIA – O fato concreto é que, devido às interferências exigidas pelo presidente Bolsonaro para salvar os filhos e o próprio mandato, o Ministério Público Federal acaba de entrar em grave crise, que ninguém sabe como pode terminar.
Depois da demissão do ministro Moro, que foi um divisor de águas e exibiu as entranhas do Poder, os procuradores da Lava Jato em Curitiba ficaram perplexos com a visita de surpresa da subprocuradora Lindora Maria Araújo, na semana passada.
Braço direito de Aras, Lindora esteve em Curitiba na quarta e na quinta-feira, a pretexto de consultar arquivos sigilosos da Lava Jato que seriam sigilosos. A visita provocou desentendimento sobre a transferência dessas informações reservadas, e três procuradores da Lava Jato se demitiram.
ARAS ENTRA EM CENA – Agora, é a força-tarefa da Lava-Jato no Rio de Janeiro que descarta um pedido do próprio procurador-geral Augusto Aras, para ter acesso a “todas as bases de dados” das investigações em andamento no Rio de Janeiro, conforme aconteceu em Curitiba.
Com muita habilidade, os procuradores que integram o grupo no Rio responderam ao ofício de Aras, solicitando que ele indique o caso de seu interesse específico, porque só assim a força-tarefa poderia pedir ao juiz Marcelo Bretas, responsável pelos processos, a autorização para o compartilhamento de provas.
O procurador-geral ficou furioso, disse que a Lava Jato não é “órgão autônomo”, criticou a possibilidade de virar “instrumento de aparelhamento” e defendeu o projeto de unificar as forças-tarefas.
PROMETEU E NÃO CUMPRIU – Aras está no desespero, porque prometeu fornecer a Bolsonaro as informações sobre todos os inquéritos e processos que possam atingir os filhos dos presidente e seus aliados do Centrão.
Para tanto, enviou ofício às unidades da Lava Jato, requisitando dados de todos os bancos de dados, inclusive relatórios de inteligência do antigo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) e da Receita Federal, assim como resultados de buscas e apreensões realizadas pela Lava-Jato, quebra de sigilos e dados de colaboração de outros órgãos.
Aras jamais imaginou que os procuradores simplesmente dissessem não e exigissem a especificação dos dados que lhe interessam, o que Aras não pode fazer sem comprometer Bolsonaro.
P.S. 1 – Os procuradores levaram Aras a nocaute com a maior facilidade. A Corregedoria já está estudando a interferência da subprocuradora e pode também investigar a atuação do procurador-geral, vejam a que situação chegamos.
P.S. 2 – Bolsonaro está furioso, subindo pela paredes, mas não pode fazer nada, porque a ala militar o obriga a fazer o papel de “Paz e Amor” para mantê-lo na Presidência. O assunto é quentíssimo e vamos voltar a ele. (C.N.)