Pedro do Coutto
A decisão do ministro Ricardo Lewandowski acolhendo parcialmente recurso da Advocacia Geral da União sem dúvida protege Eduardo Pazuello na medida em que ele não produza provas contra si próprio, mas expõe o presidente Jair Bolsonaro e o governo, uma vez que o ex-ministro da Saúde tornou-se obrigado a responder as perguntas relativas ao combate à pandemia e a Covid-19 que se relacionam tanto com as ações quanto com as omissões do governo federal.
A decisão de Lewandowski, embora monocrática, transformou-se em efetiva já que não há tempo para que seja ela revista, pois o depoimento do general Pazuello está marcado para quarta-feira. A decisão equilibrou o tema e tornou possível, essa é a verdade, a obrigação do dependente comparecer à Comissão Parlamentar de Inquérito, na condição de testemunha, não podendo se recusar a esclarecer pontos que lhe forem apresentados. A situação de Pazuello não se altera em consequência do seu parcial silêncio.
OMISSÃO – Porém o panorama geral do governo, se os senadores conduzirem bem o episódio, mostrará os equívocos e as omissões do Planalto na aquisição de vacinas, no obstáculo criado para a chinesa Coronavac e também para a Pfizer. A Pfizer ainda foi recuperada pelo governo, mas a chinesa está sendo retardada porque a China ainda não remeteu os insumos indispensáveis ao Butantan, encarregado de produzir o medicamento no país.
Na Folha de São Paulo a reportagem é de Marcelo Rocha, Matheus Teixeira e Daniel Carvalho. No O Globo, de Marina Muniz, Jussara Soares, Paulo Cappelli e Julia Lindner. Tanto a Folha quanto O Globo deram grande destaque ao desfecho e apresentaram relatos bastante extensos sobre a decisão de Lewandowski e também a respeito do próprio processo de vacinação.
DATAFOLHA – Também na Folha de São Paulo, matéria de Fábio Zanini publicada ontem, uma pesquisa do Datafolha sobre como a população encara a CPI e os seus efeitos a partir da progressão da pandemia. Por exemplo, 82% apoiam as investigações, porém somente 35% acreditam que a Comissão de Inquérito levará a investigação até o final.
Relativamente à informação sobre como o episódio está sendo absorvido pela população, 52% tem conhecimento do que se trata. Mas, 48% não têm tal conhecimento. Diante da pergunta se a pessoa está mais ou menos informada, apenas 14% responderam que estão bem informadas.
Diante da pergunta se o governo federal demorou para adquirir as vacinas, 75% disseram que sim. E 73% sustentaram que o Planalto transformou a pandemia em um problema político e agiu como se não fosse grave.
AUDIÊNCIA – Esses resultados dão base a que os trabalhos da CPI ganhem audiência, uma vez que a sessão será transmitida pela GloboNews. O panorama é este e revela que apesar de não se considerar bem informada, a maioria da população culpa o governo pelo atraso da vacinação.
Como em todas as pesquisas, as respostas podem não ter uma lógica sólida, mas os efeitos inevitavelmente se deslocam para o panorama eleitoral. Bolsonaro diz que só perde para Lula se houver fraude.
VOTO IMPRESSO – Reportagem de João Pedro Pitombo, Folha de São Paulo deste sábado, coloca em destaque a afirmação do presidente da República voltando a defender o voto impresso e dizendo que só pode perder para Lula nas urnas em 2022 se houver fraude. Fraude, portanto, na opinião de Bolsonaro é realizada nas urnas eletrônicas, pois o sistema, como revelou o ministro Luiz Roberto Barros, presidente do TSE, não será alterado no próximo pleito.
Barroso assinalou que, implantadas em 1996 as urnas eletrônicas, até hoje não houve qualquer denúncia de irregularidades por menor que fossem. Voltando às afirmações, Bolsonaro disse que um bandido foi posto em liberdade, referindo-se a Lula, tornando-se elegível, no meu entender, frisou, para ser presidente através de fraude. Bolsonaro acrescentou: “ele só ganha nessa fraude no ano que vem”.
Ele fez essas declarações em Mato Grosso do Sul onde participou de eventos marcados pela entrega de títulos de propriedade de terras a agricultores. A opinião de Bolsonaro foi exposta, portanto, dois dias depois da divulgação da pesquisa do Datafolha. Por essa, como escrevi a respeito, Lula alcança 41% das intenções de votos contra 23% de Bolsonaro. São números do primeiro turno e que também reúne uma série de candidatos.